para Fernando Roque de Lima
Ele procurava alguma coisa para dizer. Ela tinha 19 anos. Disse isso duas vezes, porque foi por duas vezes, sem saber, que ele lhe perguntou a idade. O nome lhe parecia incerto. Teria ela dito que se chamava Mariane? Mariana? Juliana? Não seria delicado perguntar-lhe o nome outra vez. Ela o esperava e era urgente dizer algo, senão ela poderia desaparecer e levar a beleza e a juventude que o desafiavam no sorriso conjecturado que poderia ser um simples sorriso amistoso ou transformar-se numa gargalhada terrível. E ele disse: “São lindos os seus cabelos”. Ela respondeu prontamente – “ Não são meus, é peruca. Aliás tenho muitas perucas. Também gosto desta, obrigada.”
Ele ficou momentaneamente desconcertado. Ela o olhava com olhos castanhos bem redondos e eles expressavam uma enorme agitação e pediam pressa. Sabia ela da eminência de eclipsar-se? – “Seus cabelos, como são seus cabelos?” Ele quase gaguejou. Sorriu sem graça enquanto suas mãos nervosas se apertavam numa luta de dedos que se mexiam como vermes vertebrados.
– São bonitos, gosto deles. Mas gosto também de não ser a mesma coisa sempre.
– Mas... é, as mulheres podem mudar o penteado e com isso mudar a aparência e parecer outra pessoa –, ele afirmou com certa segurança.
– A gente não pode ser diferente com o que é da gente. Cada penteado é um penteado em você mesma. Compreendeu?
– Acho que sim, acho que compreendi –, ficou sem saber como prosseguir. Ela arfou novamente, os seios se levantaram, também a cabeça que foi jogada para trás. Ele temeu que ela desaparecesse naquele momento, mas isso não se deu. Ela exalou o ar, piscou os olhos que pareciam ternos agora. Ela tocou com a mão esquerda os cabelos que lhe desciam sobre o ombro também esquerdo.
– Esta bem? – Perguntou ele dominado por uma inquietação crescente.
– Estou, estou, não pareço?
Era a primeira pergunta que vinha dela. Concordaria? Não era o que achava, afinal ela demonstrava muita ansiedade, arfava freqüentemente como se o ar fosse penosamente captado e difícil de ser retido.
– Parece –, cedeu diante da possibilidade de contrariá-la.
Então ela sorriu. E que sorriso? Não chegava a ser gargalhada tão temida, mas era um sorriso quase diabólico porque o reduzia a coisa alguma, era aniquilador. Naquele sorriso havia piedade e desprezo, simpatia e comiseração. Um sorriso que se dá a um idiota, e era isso que ele era, pelo menos era assim que se sentia naquele momento.
Ela fez um movimento com as mãos e tirou para fora da blusa, baixando o sutiã, o seio esquerdo. Pareceu-lhe que era algo que se projetava dela, como se nascesse subitamente do seu corpo, algo que ali antes não estivesse. Era grande, pontudo, absolutamente insuspeitado. Ele fixou-se naquela coisa absurda que apontava diretamente para os seus olhos. Ela conservou o sorriso que assumiu um ar de certa crueldade e eram seus olhos que sorriam com crueldade maior.
Ele ficou imóvel, fixado nela, confuso. A mulher ao se desnudar metamorfoseava-se. Quando ele pode, então, e depois de algum tempo, olhá-la nos olhos, ela fez o mesmo com o seio direito e eis que novamente brotava aquela coisa fascinante que a projetava numa outra forma, numa outra dimensão. Pareciam duros porém macios, e enormes aqueles seios que a expandiam, pois agora que a blusa fora totalmente aberta e puxada para trás, também revelava um pescoço forte, curto, e era como se ela estivesse saindo de seu casulo, alada.
– Meu Deus! –, exclamou ele num murmúrio.
Ela continuou eliminando as vestes que a cobriam e os cabelos agora bem divididos sobre os ombros era como um véu escuro que destacava sua cabeça, pescoço e ombros e faziam dos seios parte de um conjunto.
– O que você quer? – perguntou ela languidamente.
– Você poderia ficar em pé? – balbuciou.
– Posso até voar –, ela respondeu com prontidão como se estivesse reagindo a um desafio sobre suas possibilidades.
– Não, por favor não voe. Quero você completa. – disse ele quase desesperado.
Ela tirou o sutiã que estava enrolado à altura do umbigo. Tirou também as asas de tecido e ergueu-se numa ascenção majestosa e com tal firmeza de gesto que a ele pareceu que cumpria-se a ameaça de voar. E para fazer o que fez, ela aproximou-se de tal modo que agora estava a poucos centímetros de distância, portanto, ao alcance de suas mãos. Estava suficientemente próxima para não mais poder ser vista por inteiro e os olhos dele viram extasiados a aparição do ventre e nele a escassa cobertura de pelos. A luz do abajur que trespassava entre as colchas que ondulavam, naquele momento, com o movimento de uma e da outra perna para desfazer-se da roupa, e logo a firmeza, a imobilidade desafiadora da nudez vista contra a luz e na parcialidade do vão das pernas.
Ele, num movimento brusco e imprevisto, puxou-a para si com as mãos em concha nas nádegas da mulher, precipitando-a bruscamente para o rosto o seu ventre, como se mergulhasse de cabeça para nele desaparecer por inteiro e fugir da própria visão que o encantava.
Aturdido pelo cheiro, pelo gosto, e de olhos fechados contra os pêlos, sacudido pela vibração do corpo consistente que segurava com firmeza, chorou compulsivamente, enquanto que ela o puxava mais e mais para si. E ela então disse o que ele não pôde ouvir: – entre, a casa é sua, pode morrer nela.
Quando ele estremeceu, sentiu o salgado de suas próprias lágrimas e a umidade que vinha de dentro da mulher. Descolou, lentamente, o rosto e manteve os olhos fixos, bem abertos, e como uma lente zoom que distancia o objeto focado, recuou vendo o ventre vermelho e incandescente perder sua extraordinária dimensão e tornar-se parte integrante da mulher colossal que se erguia em sua frente. Projetou-se para trás e soltou-a completamente, erguendo-se muito acima dela e agora podia vê-la de toda a sua altura. Distanciou-se aproximando-se da porta. Os olhos castanhos escuros e os seios o olharam. Ele sorriu, ergueu os ombros. Sorriu mais descontraído, quase aliviado. Ela devolveu-lhe o gesto com uma expressão de ternura nos olhos e na boca.
– Posso voltar outra vez? – perguntou arfando enquanto passava o lenço no rosto. Ela disse sim com um balanço da cabeça.
– Você me espera? – ela respetiu o gesto.
– Eu prometo que me comporto de modo diferente – disse, baixou os olhos para acompanhar a própria mão que retirou do bolso da calça o dinheiro dobrado, previamente separado, que depositou sobre o braço do sofá.
– Qualquer dia?
Ela disse sim, desta vez com sua voz e acrescentou após um curto intervalo silencioso: – “Quando desejar.” Ele sorriu gratificado e depois de outro tempo de silêncio, perguntou: – Posso lhe amar?
– Não foi para amar que veio?
Ele sorriu. – Mariana?
– Sim, Mariana – respondeu ela ternamente.
Ele estendeu-lhe a mão. Ela hesitou, mas acompanhou-o no gesto e ele disse: – Prazer, José.
Ela disse: – Igualmente.
Ele disse que voltaria e ela que o estava esperando. Deram-se boa noite. Abriu a porta e ele desapareceu. Ela começou a recompor seu casulo, peça por peça, até tornar-se insuspeitadamente pequena quando já coberta sentou-se no sofá, acendeu o cigarro e soltou a fumaça que parecia ser o vestígio de seu próprio evanescimento.
Ele ficou momentaneamente desconcertado. Ela o olhava com olhos castanhos bem redondos e eles expressavam uma enorme agitação e pediam pressa. Sabia ela da eminência de eclipsar-se? – “Seus cabelos, como são seus cabelos?” Ele quase gaguejou. Sorriu sem graça enquanto suas mãos nervosas se apertavam numa luta de dedos que se mexiam como vermes vertebrados.
– São bonitos, gosto deles. Mas gosto também de não ser a mesma coisa sempre.
– Mas... é, as mulheres podem mudar o penteado e com isso mudar a aparência e parecer outra pessoa –, ele afirmou com certa segurança.
– A gente não pode ser diferente com o que é da gente. Cada penteado é um penteado em você mesma. Compreendeu?
– Acho que sim, acho que compreendi –, ficou sem saber como prosseguir. Ela arfou novamente, os seios se levantaram, também a cabeça que foi jogada para trás. Ele temeu que ela desaparecesse naquele momento, mas isso não se deu. Ela exalou o ar, piscou os olhos que pareciam ternos agora. Ela tocou com a mão esquerda os cabelos que lhe desciam sobre o ombro também esquerdo.
– Esta bem? – Perguntou ele dominado por uma inquietação crescente.
– Estou, estou, não pareço?
Era a primeira pergunta que vinha dela. Concordaria? Não era o que achava, afinal ela demonstrava muita ansiedade, arfava freqüentemente como se o ar fosse penosamente captado e difícil de ser retido.
– Parece –, cedeu diante da possibilidade de contrariá-la.
Então ela sorriu. E que sorriso? Não chegava a ser gargalhada tão temida, mas era um sorriso quase diabólico porque o reduzia a coisa alguma, era aniquilador. Naquele sorriso havia piedade e desprezo, simpatia e comiseração. Um sorriso que se dá a um idiota, e era isso que ele era, pelo menos era assim que se sentia naquele momento.
Ela fez um movimento com as mãos e tirou para fora da blusa, baixando o sutiã, o seio esquerdo. Pareceu-lhe que era algo que se projetava dela, como se nascesse subitamente do seu corpo, algo que ali antes não estivesse. Era grande, pontudo, absolutamente insuspeitado. Ele fixou-se naquela coisa absurda que apontava diretamente para os seus olhos. Ela conservou o sorriso que assumiu um ar de certa crueldade e eram seus olhos que sorriam com crueldade maior.
Ele ficou imóvel, fixado nela, confuso. A mulher ao se desnudar metamorfoseava-se. Quando ele pode, então, e depois de algum tempo, olhá-la nos olhos, ela fez o mesmo com o seio direito e eis que novamente brotava aquela coisa fascinante que a projetava numa outra forma, numa outra dimensão. Pareciam duros porém macios, e enormes aqueles seios que a expandiam, pois agora que a blusa fora totalmente aberta e puxada para trás, também revelava um pescoço forte, curto, e era como se ela estivesse saindo de seu casulo, alada.
– Meu Deus! –, exclamou ele num murmúrio.
Ela continuou eliminando as vestes que a cobriam e os cabelos agora bem divididos sobre os ombros era como um véu escuro que destacava sua cabeça, pescoço e ombros e faziam dos seios parte de um conjunto.
– O que você quer? – perguntou ela languidamente.
– Você poderia ficar em pé? – balbuciou.
– Posso até voar –, ela respondeu com prontidão como se estivesse reagindo a um desafio sobre suas possibilidades.
– Não, por favor não voe. Quero você completa. – disse ele quase desesperado.
Ela tirou o sutiã que estava enrolado à altura do umbigo. Tirou também as asas de tecido e ergueu-se numa ascenção majestosa e com tal firmeza de gesto que a ele pareceu que cumpria-se a ameaça de voar. E para fazer o que fez, ela aproximou-se de tal modo que agora estava a poucos centímetros de distância, portanto, ao alcance de suas mãos. Estava suficientemente próxima para não mais poder ser vista por inteiro e os olhos dele viram extasiados a aparição do ventre e nele a escassa cobertura de pelos. A luz do abajur que trespassava entre as colchas que ondulavam, naquele momento, com o movimento de uma e da outra perna para desfazer-se da roupa, e logo a firmeza, a imobilidade desafiadora da nudez vista contra a luz e na parcialidade do vão das pernas.
Ele, num movimento brusco e imprevisto, puxou-a para si com as mãos em concha nas nádegas da mulher, precipitando-a bruscamente para o rosto o seu ventre, como se mergulhasse de cabeça para nele desaparecer por inteiro e fugir da própria visão que o encantava.
Aturdido pelo cheiro, pelo gosto, e de olhos fechados contra os pêlos, sacudido pela vibração do corpo consistente que segurava com firmeza, chorou compulsivamente, enquanto que ela o puxava mais e mais para si. E ela então disse o que ele não pôde ouvir: – entre, a casa é sua, pode morrer nela.
Quando ele estremeceu, sentiu o salgado de suas próprias lágrimas e a umidade que vinha de dentro da mulher. Descolou, lentamente, o rosto e manteve os olhos fixos, bem abertos, e como uma lente zoom que distancia o objeto focado, recuou vendo o ventre vermelho e incandescente perder sua extraordinária dimensão e tornar-se parte integrante da mulher colossal que se erguia em sua frente. Projetou-se para trás e soltou-a completamente, erguendo-se muito acima dela e agora podia vê-la de toda a sua altura. Distanciou-se aproximando-se da porta. Os olhos castanhos escuros e os seios o olharam. Ele sorriu, ergueu os ombros. Sorriu mais descontraído, quase aliviado. Ela devolveu-lhe o gesto com uma expressão de ternura nos olhos e na boca.
– Posso voltar outra vez? – perguntou arfando enquanto passava o lenço no rosto. Ela disse sim com um balanço da cabeça.
– Você me espera? – ela respetiu o gesto.
– Eu prometo que me comporto de modo diferente – disse, baixou os olhos para acompanhar a própria mão que retirou do bolso da calça o dinheiro dobrado, previamente separado, que depositou sobre o braço do sofá.
– Qualquer dia?
Ela disse sim, desta vez com sua voz e acrescentou após um curto intervalo silencioso: – “Quando desejar.” Ele sorriu gratificado e depois de outro tempo de silêncio, perguntou: – Posso lhe amar?
– Não foi para amar que veio?
Ele sorriu. – Mariana?
– Sim, Mariana – respondeu ela ternamente.
Ele estendeu-lhe a mão. Ela hesitou, mas acompanhou-o no gesto e ele disse: – Prazer, José.
Ela disse: – Igualmente.
Ele disse que voltaria e ela que o estava esperando. Deram-se boa noite. Abriu a porta e ele desapareceu. Ela começou a recompor seu casulo, peça por peça, até tornar-se insuspeitadamente pequena quando já coberta sentou-se no sofá, acendeu o cigarro e soltou a fumaça que parecia ser o vestígio de seu próprio evanescimento.